RO, Sexta-feira, 29 de março de 2024, às 4:30



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Rondônia: a educação, a pandemia e o jardineiro…

Francisco Xavier Gomes

CACOAL – O estado de Rondônia certamente está entre as unidades da federação mais atingidas pela covid-19, e os números deste início de ano indicam que os problemas em 2021 podem ganhar uma proporção muito mais grave do que os fatos do ano anterior. Mesmo assim, ainda existem pessoas que ignoram a realidade e apresentam propostas completamente absurdas relacionadas com a grave situação da pandemia no estado de Rondônia. No dia 18 de fevereiro, o deputado Eyder Brasil protocolou um projeto de lei na Assembleia Legislativa do Estado que merece ser totalmente abominado por qualquer pessoa que tenha o mínimo de respeito pela vida e pelos profissionais da educação do estado criado pelo coronel Jorge Teixeira, militar que é exaltado na biografia do deputado, nos arquivos da Assembleia Legislativa.

Cena que não se repetirá durante a pandemia: para a volta às aulas, alunos deverão se acomodar a 120 centímetros um do outro

Antes de entrar no mérito da proposta, cabe salientar que nenhuma pessoa em sã consciência ignora o fato de que a educação é uma atividade essencial. Até mesmo deputados dos mais medíocres que Rondônia tem conseguem perceber tal fato. É óbvio que a educação é uma atividade essencial, embora nunca tenha sido tratada como tal, durante os mais de dois anos de mandato de Eyder Brasil. Somente agora, neste momento de grave crise sanitária, ele descobriu que a educação é essencial. A proposta do deputado é tão descabida que certamente terá o mesmo destino de tantas outras que ele tentou aprovar, mas que foram arquivadas pela Casa de Leis, justamente porque não tinham nenhum fundamento. No campo da educação, que Eyder Brasil considera atividade essencial, não existe absolutamente nenhuma lei que ele tenha proposto até este momento para melhorar a vida dos profissionais de educação em Rondônia. A “principal” lei do deputado em 2019, seu primeiro ano de mandato, foi uma lei que muda o nome de uma ponte sobre o rio Barão de Melgaço, no município de Pimenta Bueno.

O curioso, no teor do projeto que Eyder Brasil apresentou exigindo a volta às atividades presenciais nas escolas de Rondônia, é que ele diz, em sua “justificativa” que tem a “honra” de apresentar o projeto. Ou Eyder Brasil não sabe o que é honra, ou não sabe o que é educação, ou não sabe o que é atividade essencial, ou não sabe o que é o respeito pela vida, ou não sabe o que está fazendo no mandato. Os profissionais de educação merecem respeito!!! Que honra fajuta!! Certamente Eyder Brasil desconhece o número de profissionais da educação que morreram em consequência da covid-19, neste período de pandemia. Centenas de profissionais morreram. Centenas de profissionais estão entubados, por causa da doença. Centenas de profissionais, infelizmente, ainda morrerão, se depender de gente como Eyder Brasil. Em mais de dois anos de mandato, ninguém nunca viu o deputado lutar pela conclusão do Hospital Regional de Guajará-Mirim, obra prometida pelo governador eleito com apoio de Eyder Brasil; e totalmente abandonada pelo governo e pelos deputados. A conclusão do hospital de Guajará-Mirim certamente evitaria a morte de muitas pessoas. A conclusão do hospital na “Pérola do Mamoré” evitaria a transferência de dezenas de rondonienses para outros estados, entre eles profissionais da educação.

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O projeto apresentado por Eyder Brasil ignora completamente os números da covid-19 em Rondônia. Em 2020, 1.817 pessoas morreram no estado, vítimas da doença. E nos primeiros 50 dias de 2021, 868 morreram. Isto significa que, neste novo ano, as proporções da tragédia são muito maiores. O projeto de Eyder Brasil, caso fosse aprovado, contribuiria de maneira significativa para matar muito mais do que a doença mata hoje. É melhor pensar que dentro da Assembleia Legislativa deve haver maioria de deputados que respeitam a vida e os profissionais da educação. Em 2021, não existe nenhuma proposta do deputado Eyder Brasil cuja finalidade seja melhorar a vida dos profissionais de educação. Embora o deputado não saiba, é muito difícil um profissional da educação que não deseja a volta das aulas presenciais, porque o trabalho ficou muito mais difícil no modelo remoto. E por que ficou mais difícil?? Porque nenhum deputado cobrou do governo de Rondônia que desse qualquer apoio aos profissionais para que tenham meios de produzir as aulas remotas. Os profissionais estão gastando seus parcos recursos com a aquisição de aparelhos eletrônicos e custeio de gastos com internet, porque o governo defendido tão bravamente por Eyder Brasil nunca deu nenhum tipo de apoio. Para Eyder Brasil, a educação é atividade essencial, mas o deputado jamais considerou essencial que o governo forneça os meios para que a educação seja desenvolvida pelos profissionais. Em sua biografia, o deputado fala que trabalhou de jardineiro antes de ser militar do Exército Brasileiro. Eyder Brasil certamente não é nenhum motivo de orgulho para os jardineiros de verdade, porque ele é o jardineiro mais insensível de que já se teve notícia.

O deputado Eyder Brasil deveria cobrar das autoridades que os profissionais da educação fossem incluídos entre os grupos que precisam ser vacinados. A educação é tão essencial quanto a vacinação. Somente uma pessoa muito insensível deseja colocar em risco a vida dos profissionais de educação, dos alunos e das famílias dos alunos. Durante a campanha, Eyder Brasil dizia que defendia as famílias. Que famílias ele defende?? Os profissionais de educação não possuem família? Os alunos não possuem famílias? Os familiares dos alunos não possuem famílias?? Todas essas pessoas estarão em risco, com a volta das atividades presenciais. Será que o deputado sabe quantas pessoas trabalham na educação e fazem parte dos grupos de risco? Já que não possui nenhum respeito pela vida dos profissionais de educação, Eyder Brasil deveria se limitar a continuar protocolando na Assembleia Legislativa os projetos que mudam nomes de pontes, porque esses não colocam em risco a vida das pessoas que têm a árdua missão de trabalhar na formação da sociedade, evitando que o poder legislativo do estado se torne um reduto insano de analfabetos insensíveis…

Tenho dito!!!

*É Professor da Rede Estadual e Jornalista






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