RO, Sábado, 27 de abril de 2024, às 0:42



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Omissão do Estado e Município asfixia e leva à morte o Distrito Industrial de Porto Velho, denuncia empreendedor

PORTO VELHO – Nada de chaminés, máquinas trabalhando ou movimentação de trabalhadores chegando e saindo para o turno de trabalho. Quem procura o Distrito Industrial de Porto Velho, ao invés destas cenas, vai encontrar um cenário que mais lembra uma cidade fantasma: as poucas ruas esburacadas, sem nenhuma manutenção, matagal tomando conta dos terrenos e empresas abandonados e sendo saqueados por ladrões. Essa é a descrição exata da área destinada à instalação de indústrias na capital de Rondônia – idealizada e começada a implantar há cerca de 25 anos. O local é uma miragem.

E quem acreditou na conversa bonita de governadores e prefeitos neste quarto de século e ousou se instalar no Distrito Industrial (nome pomposo para uma área abandonada pelo Poder Público) até agora só amarga prejuízos.

Prefeito Hildon Chaves se elegeu com discurso de incentivo à indústria em Porto Velho. Ficou só na promessa eleitoreira

O atual prefeito de Porto Velho, Hildon Chaves, fez campanha se dizendo empresário e não político e prometendo apoiar a implantação de empresas na capital para acabar com a crônica falta de postos de trabalho. Não passou de discurso de quem quer chegar ao Poder apenas por capricho.

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Com mais de 15 anos e muitos investimentos feitos no Distrito Industrial de Porto Velho, gerando emprego e renda a um número considerável de funcionários, o empresário Adélio Barofaldi não economiza críticas ao que ele, como outros investidores, classifica como ação deletéria do Governo e da Prefeitura contra o Distrito, comportamento que, pelo que ele diz, subverte as sucessivas notícias divulgadas pelos dois gestores de que buscam parceiros até no exterior para investirem na capital estadual.

“Nosso Distrito é uma caixa preta. Não se pode entender o desprezo como é tratado”, diz Barofaldi. Não entendemos o por que do governo não dar a importância que é preciso para aquela área. Nesses mais de 15 anos naquele distrito, sempre com muita dificuldade, passamos pelos governos Cassol, Confúcio, agora está o coronel. Passamos por prefeituras que estavam lá de boa vontade, mas na prática isso nunca aconteceu, nada efetivo. Infelizmente, para um projeto que atraiu empresários que investiram seus recursos, é triste dizer que o governo não dá importância”.

De acordo com o empresário que atua no segmento de geração de energia limpa, com uma ‘fazenda’ de placas solares no distrito,  “quando você traz um investidor pra cá, a primeira coisa que ele quer saber é o que nós temos de benefício para ele se instalar. Tem benefício fiscal? Tem. Benefício fiscal o Brasil todo tem, não é só Rondônia que tem, não é um privilégio. Praticamente todos os estados têm e com muito mais qualidade”.

Nem rua com nome ou CEP tem

Ao falar ao site expressãorondonia.com.br Adélio Barofaldi, certamente no grupo dos cinco maiores empresários do Estado, não nega a decepção com o descaso dos órgãos gestores em relação ao Distrito Industrial de Porto Velho. E cita um dos desacertos entre Estado e Prefeitura, num fato que é resolvido de imediato em qualquer invasão de área, mas que no Distrito se transformou numa novela interminável.

Ele lembra que no Distrito Industrial as ruas não têm nome, e nem o CEP para dar como orientação a um visitante ou para receber uma simples correspondência, quando se tem de pedir socorro à segurança pública não se tem um indicativo, e tudo porque falta o arruamento que deve ser feito pela prefeitura. “Imagine: investimos milhões de reais num empreendimento e, em plena época da boa informática, nem isso temos por lá”.

No Distrito nada está legalizado

E sabe a razão pela qual o Distrito inexiste para, por exemplo, um financiamento bancário? Barofaldi explica: “não tem um nome de rua porque o loteamento lá não está legalizado até hoje, porque é escritura pública e o banco não aceita para você dar garantia, e a prefeitura, que tem que dar a escritura, não dá o alvará porque não tem escritura do imóvel. Então, é uma coisa fora do normal, fora do comum. Quando um administrador não tem sensibilidade empresarial fica difícil. A gente vê passar governos e governos, quando eu falo governo é Prefeitura de Porto Velho e Governo do Estado, sem essa expectativa”.

Citando exclusivamente seu exemplo, ele continua: “hoje eu tenho uma indústria de ração que vou inaugurar até agosto; vou gerar entre empregos diretos e indiretos mais de 100, mais de 50 diretos porque eu botei bastante funcionário dentro da indústria. Tem uma geração de energia solar lá também, mas quando vai para a parte legal tem a questão do alvará. Como é que o investidor vai fazer o investimento num lugar que não tem nada? Vou ter que cortar o mato da estrada, a gente tem que contratar trator e processadora para fazer isso. O governo, sempre com vontade, mas não boa vontade por que nunca fez nada e não está fazendo, nem esse nem os outros”.

Tem muita empresa fechada, abandonada

A lista de questionamentos feita por Adélio Barofaldi é imensa, “pode parecer cansativa ou crítica gratuita ao governo e à prefeitura, mas não me refiro só a estes dois aí. Nosso drama vem desde o início, há mais de 20 anos. Quem investe no Distrito Industrial não encontra facilidade. Faltam condições mínimas, por exemplo, telefonia, internet, não tem água, não tem asfalto, o asfalto está todo comprometido, tem empresas fechadas, abandonadas, isso dá um mal-estar muito grande”.

“Não é crítica gratuita. Desconheço se o governador ou o prefeito, ou seus secretários da área de economia já visitaram o distrito; há pessoas que estão lá e que chamaram para conversar com a Associação (Apep – Associação do Polo Empresarial de Porto Velho). Tratou-se de regularizar as escrituras, mas não fizeram mais que ir à reunião para fazer. Nunca mais fizeram nenhuma reunião e não falaram mais nada sobre isso também”.

Até o dinheiro do ajardinamento sumiu na prefeitura

Barofaldi faz uma dura denúncia e que merece ser bem explicada: “há quase 25 anos o distrito existe no papel, muita gente já investiu,  já colocaram dinheiro, tiraram dinheiro, colocaram escritura, pagaram dinheiro para paisagismo na época, o dinheiro sumiu na prefeitura, ninguém sabe onde foi o dinheiro que era para fazer toda a parte de ajardinamento”.

Desprezo é tão grande que prefeito ignora quem investe

Para Adélio, a sensação é que o governo não tem dado a importância necessária para o empresário. “Quando você vê o próprio prefeito falar que ele não foi eleito pelos empresários então ele não precisa de empresário. Triste não é? Você ouvir uma autoridade falar isso. Todo mundo é empresário. A empregada doméstica em casa que tem um registro já é um micro empresário, faz compra, tem conta em banco. Todo mundo é empresário”.

Todo mundo tem sua atividade empresarial e o município de Porto Velho, estruturalmente, parece não estar comprometido com isso. O distrito precisaria muito, muito, muito agora, ter um desenho novo. Vinte e cinco anos já se passaram e se perderam. Teria que fazer um novo desenho do distrito”.

Um desenho que eu falo, e acho que vale a pena, é aprovar um incentivo fiscal para indústria em Porto Velho, primeiro tem que ser aprovado somente se a indústria for instalada no distrito industrial, porque lá não tem o incentivo necessário, um incentivo maior pra ir pra lá, povoava lá, você faria uma estrutura melhor para o distrito.

Falta tudo para empresário ter coragem de ir ao Distrito

Ele cita como exemplo a “Dydyo”. “Ela está dentro da cidade. Como é que vai crescer uma empresa dentro da cidade? Tem problema de população, tem problema de esgoto, de água e tal. É difícil. Falar do negócio do distrito sem estar triste. Estando lá, eu vejo que não tem um restaurante, não tem ônibus, não tem segurança, o índice de assalto lá é muito grande; estão saqueando aquelas empresas fechadas e isso o empresário está vendo. Hoje se prefere investir em outra cidade ou aqui no centro da cidade, porque lá não tem essa estrutura básica que precisamos”.

www.expressaorondonia.com.br






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