PORTO VELHO – Até março o movimento numa barbearia muito conhecida e de grande clientela, nas proximidades da Feira do Um, era bem diferente do que acontece atualmente. No Mercado Central a queixa dos permissionários se repete: desde que o governador Marcos Rocha, alegando necessidade de luta contra a pandemia decretou várias medidas restringindo a circulação de pessoas, essa gente que depende de sua produção para sobreviver, viu reduzido o ganho seu.
Mas não é só nesses segmentos. Há casos de diaristas que antes dispensavam serviço, mas que agora, muitas vezes, chegam a ficar vários dias sem uma chamada, e quando procuram as antigas patroas recebem a informação de que o problema “é o medo”.
Em realidade, pelo que pessoas desses setores já admitem é que está começando a mudar essa situação, “mas não sei quando é que volta como era ou quando é que pode melhorar um pouco mais”, como disse uma vendedora de uma das três principais lojas de departamentos da capital. “Para nós, que contamos com a comissão de venda para fortalecer o salário, ficar com a loja fechada mais de três meses foi demais. E agora, mesmo o movimento estando bem melhor, ainda vai demorar para voltar ao que era antes
“Parece que as pessoas estão com medo. Nós mesmos, prestadores de serviço, também estamos com medo, não dá para negar, mas o jeito é encarar porque as contas não param de chegar, e temos de comer todos os dias”, disse um taxista que logo no início do isolamento social recolheu o carro e ficou 20 dias sem trabalhar, “mas tive de ir para a rua quando começou a faltar comida em casa”.
“Você sabe o que é ter até março em torno de seis a oito clientes para fazer unhas e de repente não ter nenhum durante vários dias? Eu vivo disso. Felizmente parece que as pessoas estão perdendo o medo”, disse uma conhecida manicure que atende em casa. Aluna de uma faculdade particular, ela pensou até em trancar o curso. “Felizmente, a clientela está voltando, ainda não é como antes, mas está muito melhor do que de março ao início de julho”.
Uma ex-secretária de escola particular perdeu o emprego, e no aperto decidiu usar o que aprendeu num curso de corte e costura. Conta que apesar de tudo, está conseguindo suprir o básico para si e o filho de 6 anos, produzindo máscaras. No início eram só as simples, mas agora consegue ganhar mais um pouco com as de modelos sofisticados. O faturamento vem aumentando.
E, como várias outras pessoas que dizem terem se reinventado nesse período, a fabricante de máscara já pensa em nem procurar outro emprego. E partir, quando acabar a clientela de máscaras, para outros tipos de costuras. “Eu não me reinventei. Apenas coloquei em prática o que, por puro descompromisso, aprendi e que agora pretendo seja um modo de vida”.