RO, Sexta-feira, 29 de março de 2024, às 5:38



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Lenha na Fogueira – Zé Katraca conta causos da escola de samba “Pobres do Ciairi’

PORTO VELHO – Para contarmos essa história, é necessário voltarmos ao ano de 1972, quando a escola de samba ‘Os Pobres do Caiari’ conquistou seu primeiro tricampeonato, ao apresentar na avenida o enredo: “Brasil Esplendor das Três Raças” uma pesquisa da professora Marise Castiel e samba de autoria da parceria Silvio M. Santos e João B. Feitosa.

Acontece que mesmo a escola sendo campeã, a professora Marise tão logo terminou o carnaval, comunicou a diretoria, que a agremiação não desfilaria no carnaval de 1973, porque ela tinha a pretensão de passar o carnaval no Rio de Janeiro onde procuraria orientação dos carnavalescos cariocas, de como se montava o enredo de uma escola de samba, mesmo já tendo sido campeã por três vezes no carnaval de Porto Velho, escrevendo enredos para a Pobres do Caiari.

Marise invade o desfile da Portela

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Um dos objetivos de Marise Castiel no Rio de Janeiro, era conhecer pessoalmente o Patrono da Escola de Samba Portela o famoso Natal. Apesar das várias tentativas, Marise não conseguiu ser recebida pelo seu Natalino José do Nascimento, mais conhecido como Natal da Portela em seu escritório em Madureira, porém, ela não desistiu da empreitada de falar com ele custasse o que custasse. Assim, foi assistir aos desfiles das escolas de samba do Grupo 1 (Especial), que naquele ano foi na Candelária.

Ainda era de tarde, quando ela chegou à Candelária e se posicionou num lugar estratégico. A Portela foi a 4ª escola a entrar na avenida, defendendo o enredo “Passárgada, Amigo do Rei”. Quando o presidente Natal surgiu na passarela numa cadeira de rodas, Marise pulou para dentro da pista, não deu confiança aos seguranças de Natal e quase de cócoras, saiu desfilando ao lado do presidente e disse o motivo de sua atitude. Natal gostou do atrevimento de Marise lhe deu um cartão de visita e mandou que ela o procurasse na sede da Portela que ele a receberia.

Portela batiza a Caiari

Passado o carnaval, Marise foi realmente recebida pelo Patrono da Portela e não só conseguiu expor suas ideias, como conseguiu com o grande carnavalesco, que sua escola de samba “Os Pobres do Caiari” de Porto Velho (RO), fosse batizada pela PORTELA. Como prova do Batismo Natal lhe entregou os símbolos da Portela, à época (ainda não existia a Águia), Uma Cartola e Uma Batuta e mais alguns mimos que Marise trouxe para Porto Velho e em reunião solene, com a direção da Caiari contou o que havia conseguido no Rio de Janeiro, em especial na Portela. Foi então que as cores Azul e Branca passaram a ser as cores oficiais da Pobres do Caiari.

Viagem a Bahia

Logo após o carnaval e depois de ter conseguido o que queria com ‘seu’ Natal, Marise Castiel embarcou rumo a Salvador – BA com o objetivo de reunir material para desenvolver o enredo de sua escola Os Pobres do Caiar para o carnaval de 1974. Ao desembarcar na capital baiana, deu início a pesquisa sobre os costumes e o folclore baiano e foi juntando livros, revistas, cordel além de visitar as rodas de capoeira, maculelê e tomar conhecimento das festas religiosas candomblé, umbanda, Nossa Senhora da Conceição, Lavagem do Bomfim e Iemanjá que acontece no dia 2 de fevereiro, além da culinária.

Ao regressar a Porto Velho e depois de ter estudado sobre os costumes da Bahia no material que conseguiu trazer, me convidou para uma ‘merenda’ em sua residência no bairro Caiari onde após me explicar, detalhadamente como seria desenvolvido o enredo da Pobres do Caiari no carnaval de 1974, me passou todos aqueles livros dizendo: Estuda todo o conteúdo desses livros e faz o samba enredo.  “Dona Marise não tem como a senhora fazer um resumo de tudo e me passar? ” Argumentei. É melhor você mesmo transformar essas histórias num samba, você á capaz menino!

E assim passei a ler aquele monte de livros, na realidade, eram livros de poucas páginas cujo conteúdo, eram mais as cantigas praticadas nas festas baianas.

BAINHA NA CAIARI

Já era o mês de agosto e dentro em breve, as escolas começariam seus ensaios, para isso, era preciso que o samba enredo estivesse pronto.

Certo dia estava eu no Bar do Cassimiro quando chega o Bainha todo ‘jururu’, perguntei o que estava acontecendo e ele me mostrou um papel no qual constava uma carta, com ele informando a diretoria da escola Os Diplomatas de sua renuncia ao cargo de presidente da escola. Aquela atitude não me pareceu normal, e consegui que ele me contasse o que realmente havia acontecido e ele me disse, que os diretores mais influentes da escola não aceitaram os nomes que ele havia apresentado para compor sua diretoria, uma vez que ele havia sido eleito presidente da escola e assim sendo, preferiu entregar o cargo de presidente em caráter irrevogável. No mesmo documento, informava que também estava deixando de ser sócio brincante da escola. Quer dizer, o Bainha havia deixado de pertencer aos quadros da escola que havia ajudado a criar, era um negócio muito sério. O baixinho realmente estava triste com a situação, pois o carnaval de 1974 estava começando.

Diante do quadro, fiz o seguinte convite ao Bainha: você não quer ser o Mestre de Bateria da Pobres do Caiari e meu parceiro no samba enredo? Bainha admirado e feliz argumentou: “será que a diretoria da Caiari vai me aceitar? ” Vamos tirar essa dúvida agora mesmo, fomos até a casa da Dona Marise. Quando disse do convite que havia feito ao Bainha e ele havia aceitado, dona Marise falou: Será uma honra tê-lo em nossa escola de samba e mais ainda, como Mestre da nossa Bateria.

Voltamos ao Cassimiro e festejamos juntos com a turma, o ingresso do Bainha nas fileiras da nossa escola de samba Os Pobres do Caiari.

Nasce o samba Odoiá Bahia

Alguns dias depois, era no meio da semana, nos encontramos eu, Bainha, Neguinho Menezes e o Haroldo um jovem que tocava surdo, no Bar do Gaúcho que ficava na 7 de Setembro com a Joaquim Nabuco e apresentei parte do samba que eu havia feito há alguns dias e junto com o Bainha terminamos a letra e a harmonia.

O interessante, era que a cada estrofe concluída, pegávamos um táxi e íamos até a Escola Normal onde dona Marise era a diretora e cantávamos aquela parte do samba e em troca, ela nos dava o dinheiro do táxi e da cerveja. Fizemos essa viagem umas quatro vezes naquele dia, o samba ficou pronto antes de terminar a tarde.

ODOIÁ BAHIA

Samba: de Silvio M. Santos e Bainha

Odoiá Bahia

Nossa primeira capital

Que a Caiari apresenta

Neste carnaval

Da festa da Conceição todos vão de pé

Pra lavagem do Bonfim

Entre danças e canções

Mostram, sua fé

 

Tem dendê

No Caruru, no Vatapá

Tem moqueca de xaréu

E o gostoso abará.

 

Dia 2 de fevereiro,

Os saveiros vão pro mar

Vão prestar sua homenagem

À Rainha Iemanjá.

Tem maculelê

Tem capoeira

Tem candomblé camarado

Lá na Ribeira;

Por: Sílvio M. Santos






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