RO, Quinta-feira, 28 de março de 2024, às 9:27



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Etarismo – Por William Haverly Martins

William Martins*

PORTO VELHO – A gente sabe, uma sociedade justa, democrática, sem preconceitos e igualitária é uma utopia, mas daquelas utopias necessárias, que de tanto serem almejadas, acabam deixando ver que vivemos em uma distopia, um lugar de baixa qualidade de vida, marcado pelo autoritarismo, pela opressão, pelos preconceitos e pela desesperança, aniquilando nossos sonhos. A gente também sabe, somos uma sociedade, onde as diferenças começam a se respeitar, melhorando a convivência. As diferenças não precisam significar divergências (W. Baker).

Os preconceitos desvirtuam, infamam as relações sociais, ainda assim os estigmas psicológicos decorrentes vão sendo assimilados na consciência, plasmando novos conceitos, novo jeito de ser. O racismo brasileiro, por exemplo, é o preconceito que mais resiste às modificações, principalmente porque o pardo tem vergonha de reconhecer a sua parte negra e se ofende se alguém lhe retira a máscara branca.

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Muita coisa está mudando, as TVs e as mídias sociais passaram a dar mais visibilidade aos negros, que agora aparecem, em destaque, nos noticiários e nas propagandas elitizadas. Ademais, Hollywood tem aumentado os protagonistas blacks em quantidades surpreendentes. A poeta Amanda Gorman abrilhantou a posse de Biden e se apresentou ao futuro como possível candidata à presidência da América. Valores negros/pretos, aos poucos, vão sendo integrados à sociedade como um todo, como se uma nova e séria paródia do autor da vida.

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“Sou de uma geração que assistiu esse esvaziamento negativo da palavra negro. A palavra negro era usada sempre no sentido pejorativo. Houve um trabalho, uma auto nomeação da palavra negro para esvaziar o sentido negativo dessa palavra. Foi criada uma semântica de positividade. Isso muito por meio da literatura” (Conceição Evaristo). A escritora usa com mais frequência o termo negro, mas lembra que, influenciada pelas novas gerações, passou também a adotar o termo preto, porém: “Prefiro o termo negro. É mais enfático por esse trabalho de criar um novo sentido, de rebater o sentido negativo da palavra e se afirmar como pessoa negra em todos os sentidos”.

Atualmente, com ajuda das TVs, das redes e mídias sociais, o preconceito da moda visa atingir a idade, daí os neologismos: etarismo, idadismo, ageísmo ou etaísmo. Vale lembrar que julgar alguém pela idade, cor de sua pele, por seu gênero, sexualidade, classe social, origem geográfica, aparência física, religião, comorbidades e deficiências, ou qualquer outro traço, são formas de preconceito prejudiciais à harmonia da sociedade. Viver é envelhecer, nada mais (SB).

Madonna aos 62 anos já é chamada, pejorativamente, de velha e gagá. Esses qualificativos reforçam o negativismo em relação à velhice, que não é vista, pela juventude, como um processo natural da vida. O envelhecimento do outro aparece como um mecanismo de defesa. Segundo os estudiosos, as bases do etarismo estão fundadas no negacionismo, no sentido de não se conseguir lidar com a alteridade, de não enxergar algum aspecto nosso no outro. A especialista em gerontologia social, Natália Carolina Verdi, afirma, categoricamente, que “considerar a velhice do outro é considerar a nossa própria. Considerar uma fragilidade e uma vulnerabilidade no outro é integrá-las à nossa própria finitude. A questão da velhice está muito ligada à finitude. Existe essa dificuldade da sociedade em lidar com a morte, conclui Verdi.” Tire o seu preconceito do meu caminho, eu quero passar com meu amor.

O aumento da longevidade, acompanhando os avanços científicos, tem influenciado positivamente na produtividade do ser humano, pós sessenta. Se fizermos uma pesquisa rigorosa vamos encontrar inúmeros senhores (as) com um nível de produtividade, hoje, maior do que certos jovens, além de serem dotados do quesito experiência, essa longa e bela estrada da vida, que só se mostra a quem a percorre. Um provérbio sueco diz: não jogue fora o balde velho até que você saiba se o balde novo segura água.

E se alguém acha que para se chegar a velhice é preciso muito esforço, veja este diálogo: O repórter pergunta ao velho Churchill, aos 90 e poucos anos:
– Churchill, qual o segredo dessa longevidade?
– O esporte, meu caro, o esporte… nunca o pratiquei.

Encerrando esta idiotice de preconceito contra velhos, recorro à velha e sagrada Bíblia, cheia de ícones com mais de cem e um com quase mil anos: Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados.

*É escritor; fundador e ex-presidente da Academia Rondoniense de Letras






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