RO, Sexta-feira, 29 de março de 2024, às 8:21



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De Guapindaia a Porto Velho, “deixa em cuidar de você!!”; 105 anos de instalação do município

Francisco Matias, historiador

PORTO VELHO – Neste 24 de janeiro de 2020, o município de Porto Velho comemora 105 anos de instalação política. Para muitos esta data se confunde com a criação do município e até com a instalação do estado de Rondônia. Mas o que vem a ser instalação? É um processo político e administrativo decorrente da criação, no caso, do município, criado por força da lei nº 757, de 2.10.1914, aprovada pela Assembleia Legislativa do Amazonas, de autoria do deputado estadual Pedro Barcelar e sancionada pelo governador Jônathas Pedrosa. Em seu artigo 3º esta lei determinava que “o primeiro governo do município será constituído por nomeação do governador do Estado do Amazonas e o seu mandato se estenderá até 31 de dezembro de 1916”.

 

Mas, para administrar o município, o governo amazonense sabia que não poderia nomear qualquer um, haja vista a situação de enfrentamento que havia, envolvendo poderosos seringalistas, e a não menos poderosa empresa The Madeira-Mamoré Railway Company. Para piorar, a povoação de Porto Velho, dividida em duas sociedades diferentes, estava bem no começo dos domínios madeiro-mamoreanos. Por isso, o governo resolveu nomear o major do Exército Fernando Guapindaia de Souza Brejense, herói da Guerra do Acre, que colocou em armas o Brasil e o Peru (1904-1909).

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Major Guapindaia foi o primeiro prefeito de Porto Velho

No final, ambos os países firmaram o Tratado do Rio de Janeiro, que resolveu de uma vez por todas a questão do Acre, em favor do Brasil. O major Guapindaia era, portanto, a pessoa indicada para a difícil tarefa de instalar o município, implantar pela primeira vez uma administração brasileira e encarar os americanos, ingleses e canadenses que dirigiam a Madeira-Mamoré. Com estas perspectivas, o primeiro superintendente tomou posse no dia 24 de janeiro de 1915, na povoação de Porto Velho (não era cidade), diante de seringalistas, pequenos burgueses e representantes da Madeira-Mamoré, com os quais deveria entabular negociações. Com ele tomaram posse os intendentes (vereadores) José Jorge Braga Vieira, Luzitano Correa Barreto, Antonio Sampaio, Manuel Félix de Campos e José Z. Camargo, que formaram o primeiro Conselho Municipal. Como suplentes, foram empossados José de Pontes, Achilles Reis, Horácio Bilhar, Alderico Castilho e Alfredo Clímaco de Carvalho, conforme publicado no jornal O Tempo, edição de 24 de dezembro de 1914, uma espécie de diário oficial do estado do Amazonas.

Com o mandato estabelecido para terminar em 31 de dezembro de 1916, o major Guapindaia realizou uma administração tímida e conflituosa, tendo em vista os problemas com a Madeira-Mamoré, e ficou entre a cruz e a caldeirinha, na medida em que não governava de fato o município, haja vista o poder paralelo exercido pela concessionária da ferrovia. Portanto, o dia 24 de janeiro é o segundo feriado do município de Porto Velho. O primeiro é o 2 de outubro, data da criação do município.

O Major Guapindaia e os cinco vereadores são os instaladores do município de Porto Velho, localizado nos confins do sul do estado do Amazonas e desmembrado de Humaitá.

Porto Velho, 24 de janeiro de 2020

*Historiador e analista político






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