RO, Sábado, 20 de abril de 2024, às 10:23



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CULTIVANDO A TRADIÇÃO – Naldo Brito mantém cultura herdada do pai e ganha a vida fabricando canoas ao ar livre

PORTO VELHO – Debaixo de uma árvore, na Rua Uruguai entre a Herbert de Azevedo e a Álvaro Maia, é difícil passar pelo local e não ver uma coisa difícil de encontrar pela cidade: um homem lixando, batendo um martelo, cortando tábuas grossas e construindo um equipamento de transporte fluvial conhecido por vários nomes, como piroga, igara, ubá, casco, voadeira.

Depois de armada a canoa precisa receber muita atenção na lixagem que antes era manual mas agora conta com um instrumento elétrico

Entre nós, essa companheira de quem viaja pelos rios, levando carga, passeando ou, como no período atual, entrando pelos igapós, lagos e furos para pescar, ela tem um nome carinhoso, é sempre a “canoa”, que Naldo Brito, em companhia de um irmão, fabrica há mais de 20 anos, seguindo a caminhada iniciada com seu pai quando ainda moravam numa localidade quase na divisa dos municípios amazonenses de Humaitá e Manicoré.

Ainda na década de 1970, os pais de Naldo deixaram o sítio na localidade de São José e se mudaram para Porto Velho se instalando no mesmo terreno onde se encontram até agora – o pai, de 92 anos, mora numa casa ao lado. “Naquele tempo não tinha estrada, só muito matagal mas nós morávamos na beira do rio. Então, isso aqui não assustou”, diz o herdeiro da arte de fazer canoa, autêntico  carpinteiro naval.

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A oficina, debaixo da mangueira, funciona de domingo a domingo neste período do ano quando as encomendas são boas

A OBRA

As canoas feitas por Naldo dependem “do gosto do freguês”, como ele explica. Na semana passada terminou duas, uma de três e outra de 5 metros e meio, mas estes dias vai se concentrar em uma obra maior, uma canoa de 7,50 metros, capacidade para tonelada e meia. “Só que a de agora não deve ser usada para pescar, é mais para transporte de carga, e a encomenda é de um cliente que trabalha no Rio Jamari”.

Matéria prima? Não pode ser qualquer tipo de madeira. “Eu uso cedro mara (também conhecido por cedro rosa ou cedro vermelho) ou tauari vermelho”. A construção de uma canoa de 3 metros, que deve ter quilha, fica pronta em dois dias. Uma de 5 metros, capacidade de 5 homens e 800 quilos de carga, em três, mas não tem quilha porque, ensina Naldo, o peso não deixa rodar.

Depois de armar o esqueleto lateral, a hora de começar a construir o piso do barco, que deve resistir a lagos onde existem muitos troncos e pode causar danos para a canoa

Naldo estudou até a 8ª série, mas deixou de lado os bancos da escola pra e dedicar ao trabalho e a seguir a arte de seu pai. As canoas fabricadas por Naldo e seu irmão já saem da oficina prontas, mas os remos são cobrados fora do custo final da peça.

A quilha da proa tem de estar bem ajustada, por que em caso contrário todo o trabalho feita até aí se perde

E para fazer? “Para quem sabe não é difícil, mas como tudo que se faz na vida é preciso gostar. Dá menos trabalho”, ele filosofa. De qualquer forma Naldo reconhece que a fase mais complicada é a colocação do encaixe da proa, “porque se não ficar bem encaixado todo o trabalho vai ficar prejudicado”. Outro detalhe importante e a pintura do casco, “porque se colocar qualquer tinta o casco vai durar muito menos”.

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